quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Carta Leiga ao "Seu Doutor"

Nobre homem que legisla
Meus direitos e deveres
Rogo a ti se aperceberes
Da trupe que aqui desfila
Longe dessa tua ilha
De torres e arranha-céus
Mais pra cá, nos beleléus
Onde a lei tua me encilha


Vou então logo dizendo
Sem rodeios a intenção
De lançar-te de oração
O que estou aqui fazendo
Tenho cá algumas “dicas”
De incremento ao teu labor
Talvez para o dissabor
Já que em ócio “nunca ficas”!

Não pretendo, ó, meu caro
Vir aqui, desmerecer
Os votos a te eleger
Ao cargo de teu amparo
Quem sabe num só disparo
Possa logo esclarecer
Detalhes que só reparo
Por no mundo real viver

Sabe lá, se nas tuas leis
Não possas tu incluir
Dedo ou dois de um elixir
Diário, por só um mês
No ano, e assim talvez
De boa conduta, argüir
O exemplo que tu te fez
“Que devam todos seguir”

Mais que isso nem pretendo
Pois estou só a pensar
Quem sabe, participar
Desta tal “demokratía”
Que de nome conhecia
De conceito mal entendo
Mas se estou te aborrecendo
E nem podes me parar
Versos vão acontecendo
Neles não podes votar

E pensar que fui pensando
Desde cedo, ao acordar
Num difuso despertar
De um povo se pensando
Se entendendo, e se notando
Vendo o sonho se esgotar
Vendo o sentido faltando
Em modo de participar
“Olhar foto e apertar”
Não é somente votando
Que me faço escutar

*******

Penso ainda nas cadeias
Na pena contada em tempo
De lamúria e de tormento
De verdades tão alheias
Bem, por certo, te baseias
Que é cerceando a liberdade
Que se educa a alma alheia
A viver em sociedade

Diz ao que com ferro fere
“Com ferro serás ferido!”
E Estado vira Bandido
Que mais, dele, não se espere
Somente que o encarcere
Norma é lei, dever cumprido
E o futuro que o espere
Sair “nada ressentido”
Mais humano, menos bandido
Aguardas lá, e confere
Nem piorado, nem corrompido

Digo logo a solução
Que cessem mistérios tais
Detector de metais
Resolve logo a questão!
Mas vejas bem, na saída, pois
Sujeito que entrou ladrão
De lá sai já homicida

Detector só resolve
Co’a Inteligência do Estado
Se a entrada já não te envolve
Ao menos sai desarmado
Ainda que desalmado
O homem que tu devolves

******

Desculpes meu nobre homem
Deputado ou Vereador
Quem sabe, até, Senador
Se mal entendo o que fazem

Nunca aprendi na escola
O que os diferencia
A vida não deu-me arrego
E dediquei cada dia
Correndo atrás do emprego
Pra garantir teu sossego
Com minha mente vazia
Pois hoje, se estás eleito
Sem medo de errar, acuso
Se deve ao homem confuso
Sem letras que leva ao peito
O escudo do teu partido
Para mim, desconhecido
Votei foi noutro sujeito
E o nome nem lembro mais
Perguntado ainda responde
“Mas que diferença faz?
Eu jogo meu voto onde?
Se eles são todos iguais?”

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